sexta-feira, 2 de julho de 2010

Preço do minério é "incógnita" para 2º semestre, avalia Associação de Comércio Exterior do Brasil

Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - As exportações de minério de ferro do Brasil poderão até ter um pequeno aumento no segundo semestre em relação ao mesmo período de 2009, mas os preços da commodity que vinham em um crescente em 2010 correm risco de serem pressionados por um agravamento da crise na Europa.

Essa foi uma das principais previsões feitas pelo vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, em entrevista na qual ele disse também que os embarques das demais commodities do país, especialmente as agrícolas, deverão seguir sem grandes sobressaltos no segundo semestre de 2010, embora com preços também pressionados.
"Eventualmente, pode-se ter um pequeno aumento no minério. Os demais produtos, os volumes serão os mesmos (no segundo semestre ante o mesmo período de 2009). Com relação a preço, acho que tudo caminha para termos um preço médio menor do que está sendo no primeiro semestre", declarou ele à Reuters.
Castro explicou que a situação na Europa "claramente vai obrigar a uma contração (da economia)", influenciando a China e os mercados globais de commodities.
"Com a Europa se retraindo, automaticamente atinge a China", ressaltou o executivo, lembrando que mesmo os chineses estão tomando algumas medidas que podem gerar "alguma retração" -como o anunciado câmbio flexível que, se deixar a iuan mais forte, pode diminuir a competitividade externa dos produtos do gigante asiático.
"Então a minha expectativa é de preços médios menores (das commodities exportadas), em um percentual entre 5 e 10 por cento menor, em relação ao primeiro semestre, mas incógnita é o minério", destacou.

Segundo o executivo, projeta-se que a partir do terceiro trimestre o minério de ferro, principal produto da Vale, tenha um aumento 30 por cento.
"Só que o cenário para minério começa a ter uma mudança, os preços do mercado spot (à vista) já tiveram uma queda, e esses 30 por cento já não estão tão confirmados", declarou ele, indicando que essa tendência estaria ameaçada para a segunda metade do ano.
Agora a cotação do minério de ferro é definida por uma fórmula de reajustes trimestrais com base na média dos preços no mercado à vista em meses anteriores.
"Mas é incógnita", reafirmou ele sobre o segundo semestre, "porque todas as commodities metálicas caíram forte, menos o minério, porque ele não é negociado em bolsa".
Mesmo assim, o especialista observou que os preços do segundo semestre, especialmente os do minério, serão maiores do que os verificados no mesmo período do ano passado, até porque a comparação com a segunda metade de 2009 é prejudicada, pois o mundo ainda estava iniciando uma recuperação econômica.
No caso do minério de ferro, as mineradoras obtiveram aumento no primeiro trimestre do ano de cerca de 90 por cento, o que por si só determina um melhor desempenho ante 2009.
Em volumes, as vendas de minério do Brasil no primeiro semestre voltaram ao patamar pré-crise.

COMMODITIES AGRÍCOLAS
Para as commodities agrícolas, outro pilar do saldo comercial do Brasil, o executivo avalia que elas terão um desempenho em volumes próximo de uma estabilidade na comparação com o mesmo período de 2009.
Os preços da soja em especial, principal produto do agronegócio do Brasil, teriam mais possibilidade de queda.
"Na soja, não vejo aumento, posso até ver estabilização das cotações atuais ou uma leve queda, aumento não consigo ver", disse ele, lembrando que os Estados Unidos esperam colher outra safra perto de níveis recordes no segundo semestre.
Com relação ao açúcar, com dominância brasileira no mercado internacional, ele também vê um cenário baixista, "porque a perspectiva para 2010/11 é de safra grande no Brasil e na Índia também".
Sobre o café, a grande safra do Brasil e a crise na Europa não permitirão novos avanços nos preços, que atingiram recentemente o maior patamar em 12 anos na bolsa de Nova York, disse Castro.
"Já as carnes, que não são negociadas em bolsa, frango, suíno e bovino, a tendência é de que a partir do momento em que começar a ter retração na Europa, automaticamente os preços comecem a cair, não muito forte."

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