sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Petrobras recua mas analistas veem pontos positivos no balanço

 Este não é um bom dia para a Petrobras (PETR3,PETR4). Seja pela queda de mais de 3% na cotação do petróleo no mercado internacional, seja pela divulgação de resultados  inferiores ao consenso dos analistas, os papéis da empresa figuram entre os destaques de queda do Ibovespa, recuando cerca de 3,22% (ordinários e preferenciais).
Entre os destaques negativos dos números divulgados na última sessão pela estatal, o desempenho das operações internacionais é o que chama mais atenção. Na base de comparação trimestral, houve queda de 10% nas vendas internacionais e de 2,3% no volume exportado, com desvalorização de 2,4% na cotação média do petróleo nas exportações.
“As operações internacionais da Petrobras apresentaram uma retração do movimento de recuperação de resultados observado nos últimotrs trimestres, com o lucro líquido caindo para R$ 278 milhões no terceiro trimestre frente aos R$ 533 milhões do segundo trimestre e inferior ao projetado de R$ 343 milhões”, frisou o analista Andrés Kikuchi, da Link Investimentos.
Outro ponto ressaltado por boa parte dos analistas foi a elevação dos custos unitários de exploração e de refino que, segundo a Link, passaram de US$ 5,48 para US$ 6,02 por barril e de US$ 3,68 para US$ 4,44 por barril, respectivamente, entre o segundo e o terceiro trimestres deste ano.

Despesas operacionais pesam
Além desses fatores, o analista Nelson Rodrigues, do BB Investimentos, destacou a realização de estoques formados em meses anteriores a preços mais altos, além do maior volume de importação de óleo e derivados e o crescimento das despesas operacionais.
Nesse sentido, Rodrigues afirma que as despesas foram “pressionadas pelo encerramento da estruturação financeira do projeto Barracuda, pelos gastos adicionais relacionados no acordo coletivo e pelo incentivo a empregados no âmbito da oferta pública."
Completando a informação, Mônica Araújo, da Ativa Corretora, informa que a empresa sofreu um impacto de aproximadamente R$ 400 milhões da estruturação financeira de Barracuda, R$ 187 milhões dos gastos com o acordo de trabalho e R$ 85 milhões com os incentivos para a oferta de ações.

Impactos positivos
Embora haja pontos negativos a serem ressaltados e observados, os analistas também encontram fatores de impulsão aos números. O primeiro deles é, sem dúvida, o resultado financeiro positivo em R$ 1,968 bilhão, impactado pela apreciação do real frente ao dólar durante o terceiro trimestre deste ano.
“No terceiro trimestre, a desvalorização do dólar foi de 6% (câmbio do final do período)”, apontou Nelson Rodrigues, do BB Investimentos, explicando que o impacto positivo se deve ao fato da Petrobras ser “devedora em moeda estrangeira no valor líquido de R$ 23,893 bilhões”.
Também relacionado ao câmbio, a Ativa Corretora ressalta o impacto positivo da equivalência patrimonial, “que no caso da controladora atingiu R$ 2,5 bilhões”.
Por fim, Rodrigues observa com otimismo o desempenho doméstico da estatal, com o aumento de 7,1% nas vendas no mercado interno de derivados de petróleo e o crescimento de 23,3% no volume vendido de gás natural. “O crescimento do lucro líquido da Petrobras no terceiro trimestre decorrei do forte aumento das vendas domésticas e, principalmente, do impacto positivo da desvalorização do dólar no resultado financeiro líquido”, resumiu.

Endividamento menor
Kikuchi, da Link Investimentos, ainda sublinha a redução da alavancagem da empresa, medida pela relação entre dívida líquida e dívida líquida mais patrimônio líquido, que passou de 34% para 16% na comparação entre o terceiro e o segundo trimestres deste ano.
“Apesar da manutenção do elevado capex (investimento em bens de capital), o endividamento líquido apresentou uma significativa redução de R$ 94,2 bilhões no segundo trimestre de 2010 para R$ 57,1 bilhões no terceiro trimestre, fruto da injeção de recursos líquidos do aumento de capital no final do trimestre”, explicou.

Menores investimentos em refino
Para o analista do BTG Pactual Gustavo Gattass, os altos investimentos nas operações de refino da Petrobras têm sido uma das maiores fontes de decepção para os investidores. Porém, ao que tudo indica, a estatal pode atenuar as preocupações com a rentabilidade caso sinalize “maior cautela sobre o refino”.
Sobre esse assunto, o analista ressaltou que foi o ponto positivo em um resultado permeado por dados marginalmente negativos. Segundo Gattass, “a chave agora é ver como a diretoria se comporta na teleconferência de resultados”, sugerindo que uma mensagem positiva poderia influenciar um rali nas ações. O evento acontecerá na próxima terça-feira, após o feriado da Proclamação da República.

Perspectivas para o futuro
Para os próximos períodos, Kikuchi ressalta que a retração da margem da unidade de Exploração e Produção no terceiro trimestre deve ser monitorada, “pois o incremento do custo de extração apresentou um crescimento significativo no período e a produção foi aquém do esperado”. O analista completa que, além disso, “o resultado financeiro positivo do trimestre não deverá contribuir na mesma proporção no resultado final do quarto trimestre”.
Falando dos últimos três meses de 2010, o analista do BB Investimentos também não se mostra muito otimista com os próximos resultados vindos do câmbio. “O faturamento da Petrobras deverá ser impactado negativamente pela valorização média do real frente ao dólar no quarto trimestre até 11 de novembro”, informou Rodrigues. Porém, o especialista acredita na melhoria da receita operacional líquida, já que os preços do petróleo no quarto trimestre, até o dia 11, encontram-se, em média, 9% acima do terceiro trimestre.
Segundo Rodrigues, as vendas no mercado doméstico devem continuar em alta devido ao crescimento do consumo de derivados de petróleo, ligado à recuperação da economia brasileira, enquanto os preços internos do diesel e da gasolina devem permanecer acima dos verificados no mercado internacional, o que melhorará a margem operacional da Petrobras.

Volatilidade nas ações
Já em relação aos papéis da estatal, as expectativas são divergentes. A Ativa Corretora, que mantém a recomendação para a Petrobras em revisão, acredita que alguns eventos poderão elevar a volatilidade das ações no curto prazo. “Entre os principais eventos estão: a revisão do programa de investimentos para os próximos cinco anos (probabilidade de aumento do volume), divulgação das reservas provadas de 2010 (janeiro de 2011, probabilidade de forte crescimento) e ainda as mudanças na direção da empresa com o início do novo governo federal”.
Por outro lado, rolando o preço-alvo dos papéis de junho para dezembro de 2011, o BB Investimentos atualizou a estimativa de R$ 40,50 para R$ 42,90 para as ações preferenciais e de R$ 45,80 para R$ 48,50 para as ações ordinárias. A recomendação é de compra.
Enfim, a Link Investimentos mantém a recomendação de market perform (desempenho em linha com a média do mercado), com preço justo de R$ 34,20 para as ações ordinárias e de R$ 30,40 para as preferenciais.

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