quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Balanço do PanAmericano deve trazer respostas, mas investimento é um risco by InfoMoney


Na última semana, o Banco PanAmericano (BPNM4), que andava meio esquecido pelo mercado, voltou ao noticiário. O primeiro passo foi o anúncio de que a instituição deverá divulgar seus resultados referentes ao terceiro trimestre até o próximo dia 31 de janeiro, após ter adiado a data por duas vezes.
Em seguida, pipocaram especulações sobre bancos interessados na aquisição do PanAmericano. De acordo com entrevista concedida à Bloomberg, o diretor do Fundo Garantidor de Crédito, o mesmo órgão privado responsável pelo empréstimo de R$ 2,5 bilhões para cobrir o rombo no balanço do PanAmericano, Antonio Carlos Bueno de Camargo Silva, já teria sido procurado por instituições interessadas.
“Tivemos manifestações de interesse de alguns bancos, na linha de ‘se for vender, você me procura, não vende sem falar comigo’, de três ou quatro bancos, se não foram mais”, disse Bueno, sem identificar possíveis compradores. Por causa do empréstimo, uma compra do PanAmericano terá que passar pelo Fundo.
Com base nessas notícias, que colocaram como possíveis interessados Bradesco (BBDC4), Citibank, Santander, Safra e BTG Pactual, as ações da companhia subiam 23% em 2011 até o fechamento do mercado na quarta-feira (26). Para analistas, no entanto, as afirmações que envolvem essas negociações ainda são bastante precipitadas.
Luis Miguel Santacreu, analista de instituições financeiras da Austin Ratings, lembra que, para qualquer tipo de avaliação, é necessário em primeiro lugar saber a situação patrimonial do banco, o que no caso do PanAmericano, envolve uma longa lista de incertezas. Mesmo a extensão do rombo, inicialmente previsto em R$ 2,5 bilhões, ainda não é fato consumado.

Fraude seria maior
Em reportagem do Estado de S. Paulo desta quinta-feira (27), afirma-se que na verdade a fraude foi maior, mas sem evidenciar a extensão, o que leva as ações a despencarem. Como disse um analista que preferiu não ser identificado, maior pode significar desde R$ 2,6 bilhões até infinito. Mas, segundo análise pessoal, é difícil acreditar que as inconsistências contábeis ultrapassem 30% da captação, o que, tomando como base os valores de junho de 2010, seria equivalente a pouco menos de R$ 4 bilhões.
"Se de fato o problema for mais extenso do que o previsto, acredito que possa atingir algo próximo a R$ 3 bilhões, no máximo R$ 3,5 bilhões", sugeriu o analista, que frisou, no entanto, que estes números são meras estimativas, já que fraudes são, por sua própria natureza, imprevisíveis.
Se de fato o rombo atingir outras proporções, novas soluções terão que ser pensadas, já que a capacidade de empréstimo do FGC ao PanAmericano não deve ir muito além do atual valor cedido. Ou seja, dessa vez Silvio Santos pode optar por compartilhar as perdas com os acionistas minoritários, ao contrário do que aconteceu em novembro, quando decidiu absorver sozinho o prejuízo ao dar como garantia seu patrimônio pessoal.
A maneira mais comum de fazer isso, acredita o analista que preferiu não se identificar, seria via um aumento de capital com valores abaixo do mercado, o que diluiria a posição dos minoritários.

Balanço deve ter credibilidade
O número ao certo só deve ser anunciado com o balanço trimestral esperado para segunda-feira (31), e após a publicação os analistas veem pouco espaço para dúvidas por parte do mercado. A Deloitte, a PriceWaterHouse Coopers e o Banco Central estão trabalhando ostensivamente nos números do banco há cerca de quatro meses.
O tempo é extenso, afirma Santacreu, para que a varredura seja minuciosa e não possa ser questionada futuramente. O fato de que a antiga diretoria foi destituída e não está colaborando com os auditores também não contribui para celeridade do processo. Como o balanço é a comunicação da empresa com o mercado, é importante que nessa divulgação, quase um acerto de contas, o mercado financeiro possa de fato aferir o resultado das atividades da companhia.
"Estou tomando os números como fidedignos, até porque passou pelo Banco Central com mais detalhamento do que o comum", apontou uma fonte.

Caixa e crédito ao varejo colaboram operacionalmente

Se ainda não é possível afirmar a atratividade de uma aquisição do ponto de vista financeiro, já que ainda há ausência de informações relevantes para sustentar uma análise, do lado operacional o Banco PanAmericano pode, ainda assim, ser um caso atrativo. Para tanto, Santacreu, analista da Austin Ratings, enxerga três motivos.
Em primeiro lugar, os produtos oferecidos, com foco no crédito ao varejo, principalmente automobilístico e consignado (descontado na folha de pagamentos), ainda são atrativos e devem oferecer sinergias com a Caixa Econômica Federal, que detém 49% da instituição.
Além disso, o Banco é bastante exposto ao crescimento das classes C e D, que devem apresentar ritmo de expansão bem mais forte, nos próximos anos, do que outras classes sociais. Por último, a parceria com a Caixa Econômica Federal é importante, porque dá solidez e credibilidade à instituição e permite captação mais barata.
Também com base nesses aspectos gerais oferecidos pelo negócio, o analista que preferiu não se identificar acredita que o Bradesco seria o maior interessado no PanAmericano, já que tem se posicionado mais próximo do crédito para o varejo. Outra opção tida como provável seria a tomada do controle da instituição pela própria Caixa Econômica.
Mas, para tanto, Silvio Santos ainda tem que emitir clara sinalização de que pretende se desfazer do banco, até mesmo porque pode optar por aguardar por um prazo maior, já que o início do pagamento do empréstimo obtido só ocorrerá daqui a pouco menos de dois anos.

Investimento ainda é especulativo
Como tudo ainda depende de apostas, o investimento em ações do PanAmericano é altamente especulativo. Para quem tem call de compra, a ideia é aproveitar-se de eventos ainda não concretizados, e que podem não virar realidade, tais como a venda do banco e o aprimoramento das relações com a Caixa. "É uma grande incógnita. Achamos que vale a pena, mas com um pedaço menor da carteira, porque é um investimento de risco", diz uma fonte que preferiu não ser identificada.
Para Santacreu, da Austin, quem tem o "pé no chão" só tomaria decisão após esclarecimentos sobre o que aconteceu no passado e qual foi o tamanho do prejuízo, já que só assim será possível afirmar o potencial de crescimento da instituição, ou mesmo o interesse de eventuais compradores.

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