segunda-feira, 29 de novembro de 2010

IABr vê ameaça a projetos siderúrgicos no Brasil

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Grande parte dos investimentos siderúrgicos brasileiros poderão ser reavaliados diante da realidade do setor, disse nesta quinta-feira o presidente do Conselho Diretor do Instituto Brasileiro do Aço, André Gerdau Johannpeter, citando obstáculos como câmbio, aumento das importações, guerra tributária e excesso de estoques no exterior.

Ele estimou que dos 39,8 bilhões de dólares de investimentos previstos entre 2009-2016, cerca de 22,5 bilhões de dólares, poderiam ser suspensos dependendo da evolução do mercado.

De acordo com o presidente do IaBr, Marco Polo de Mello Lopes, as usinas que estão em estudo podem não ir adiante, como ocorreu recentemente com a Usiminas, que desistiu de fazer uma nova usina. Ele citou também projetos da Vale no Pará e no Espírito Santo como projetos que poderiam ser adiados.

"No mínimo o que está havendo nesse momento é um processo de reflexão...o que está em andamento não tem retorno, como a Vallorec (grupo francês), mas as demais empresas vão esperar um pouco", disse Lopes, referindo-se ao projeto da francesa com o grupo japonês Sumitomo.

O IABr apresentou nesta quinta-feira suas projeções para o fechamento de 2010, mas poucas previsões para 2011. "Qual vai ser o câmbio? Como vão estar as importações? Quanto vai demandar o mercado interno para a Copa, Olimpíadas, Minha Casa Minha Vida, PAC 2?", questionou o executivo sobre as incertezas do setor.

Para este ano a previsão da produção é de alta de 24,9 por cento em relação a 2009, para 33,1 milhões de toneladas; as vendas internas devem subir 30,4 por cento, para 21,3 milhões de toneladas; exportações de 8,6 milhões, 0,7 por cento a mais do que há um ano e importações recordes de 5,9 milhões de toneladas, 153,9 por cento maior do que em 2009.

"Não conseguimos, porém, estimar números de comércio exterior, porque dependerá da evolução das condições de competitividade da indústria brasileira frente à concorrência desleal, custos tributários elevados e política cambial", afirmou Lopes a jornalistas.

O IABr considerou que ainda existem muitas dúvidas em relação ao próximo ano, e por isso estimou apenas uma previsão de capacidade de produção de 47 milhões de toneladas e um consumo aparente 6 por cento maior em relação ao projetado para 2010, de 28,3 milhões de toneladas.

"Tem que se decidir que país queremos...se quer voltar a exportar bens primários, ok, só tem que falar com a gente pra a gente deixar de investir", disparou Lopes.

Ele criticou também as importações realizadas pela Transpetro, braço de transportes da Petrobras, que no seu programa de expansão da frota até o momento comprou mais aço importado do que nacional na construção dos seus navios.

"É muito confortável para o Sérgio Machado (presidente da Transpetro) se vangloriar que está trazendo aço a preço competitivo quando você tem uma vantagem cambial", afirmou Lopes.

Para tentar reduzir pelo menos um dos obstáculos, o Iabr vem apoiando o movimento de algumas entidades contra a guerra fiscal dos estados que possuem portos e outros que lutam contra as importações por preço abaixo do praticado no Brasil.

"A CNI e a Força Sindical já entraram com adins (ação inconstitucional) nos estados de Santa Catarina e Paraná para barrar os incentivos fiscais, e quatro empresas já entraram com ações anti-dumping", disse, referindo-se à CSN, ArcelorMittal Inox, Usiminas e Vallourec.

Segundo Lopes, as quatro ações fazem parte de um universo de 38 que estão em andamento no momento na América Latina contra a concorrência desleal do aço importado.

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